É nos supermercados que a maioria dos consumidores acaba comprando além do planejado. Pesquisa mostra que 34% dos que vão a esses estabelecimentos perdem o controle Foi ao supermercado para comprar leite, pão e feijão e saiu também com o bolo, sorvete, alguns temperos, uma tábua de passar roupa que estava na promoção e mais uma blusa de malha. A impulsividade diante das gôndolas se tornou comum entre consumidores brasileiros, que frente à grande variedade de itens e bombardeio das ofertas são tentados a gastar no supermercado mais do que tinham planejado.
Pesquisa do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) em parceria com Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) revela que os super e hipermercados ultrapassaram os shoppings como lugares nos quais os consumidores mais se deixam levar pelos impulsos. Segundo a pesquisa, que alerta para o risco do descontrole no orçamento doméstico, 34% dos entrevistados admitiram gastar mais do que o planejado quando estão em supermercados, contra 25% dos shopping centers.
O estudo do SPC/CNDL apontou que as compras sem planejamento são uma prática comum principalmente nas classes A, B e C. Para não se render à tentação de colocar no carrinho uma variedade de itens que não estavam adicionados às despesas e podem fazer a diferença no orçamento, especialistas em finanças dizem que o consumidor deve sair de casa protegido pela lista de compras, que pontua as necessidades. Outras dicas simples também são importantes, como evitar fazer compras com fome e não se sentir obrigado a levar produtos oferecidos na degustação só porque experimentou. Conhecer a dinâmica das vendas também é importante. Geralmente, para chegar aos itens básicos, o consumidor terá primeiro que enfrentar corredores muitas vezes gigantes, repletos de guloseimas e itens que escapam da sua meta. Ter consciência dessa estratégia do varejo pode ajudar.
É preciso também ficar de olho na data de validade dos produtos em promoção. “Muitas vezes o consumidor exagera não só na variedade, mas na quantidade. Compra mais que o necessário de um produto na promoção, com data de validade próxima, e acaba não conseguindo consumir tudo o que levou”, lembra Maria Inês Dolci, coordenadora institucional da Proteste Associação de Consumidores.
Na avaliação do gerente financeiro do SPC Brasil, Flávio Borges, a transformação dos supermercados em estabelecimentos amplos e com maior variedade de produtos é uma das razões que explicam o descontrole do orçamento nesses templos dos alimentos aos eletrodomésticos. “Hoje, essas lojas oferecem uma abundância de produtos, que vão de roupas, itens de perfumaria a eletrônicos. Os varejistas utilizam de uma estratégia visual que leva ao consumo. Somado a isso houve uma ascensão da renda no país e os próprios supermercados financiam os consumidores, oferecem cartões de crédito e parcelam os valores em várias prestações”, aponta o especialista.
Atrativos
O representante comercial Caio Tarrago, de 51 anos, diz que mesmo morando sozinho frequentemente compra mais que o planejado no supermercado. Ele conta que o mais comum é levar frutas, guloseimas que visualmente são muito atraentes e também bebidas, como vinhos e uísques. “Uma vez por mês vou a supermercados maiores e se vejo uma blusa de malha na promoção, acabo levando o produto, mesmo que esteja fora da lista. O apelo do preço costuma ser forte”, explica. No entanto, Caio reforça que os excessos são medidos. “Fico de olho e não ultrapasso o orçamento que já tenho previamente determinado.”
Kelly Santiago, analista de crédito, diz que quando vai ao supermercado leva a lista de compras, mas confessa que acaba escapulindo um pouco. Ela, que frequenta lojas de três a quatro vezes ao mês, comenta que a variedade de itens cresceu muito “Compro de tudo no supermercado: alimentos, edredon, tábua de passar roupas. Sempre levo para casa um pouco mais que o programado, mas nunca cheguei a perder o controle. ”
Para o especialista do SPC Brasil, o risco das compras por impulso é quando elas levam ao descontrole e comprometem o orçamento, tragando o consumidor para o mundo das dívidas ruins, que são aquelas que o impedem, por exemplo, de ter contas planejadas, como a de um financiamento imobiliário ou mesmo de poupar para a aposentadoria ou para realizar projetos de investimentos em educação. Segundo Flávio Borges, supermercados são paraísos para as pequenas compras. Muitas vezes o consumidor não considera que produtos de pequenos valores possam ser considerados uma aquisição de impulso, mas dependendo da frequência e do volume eles fazem diferença no orçamento.
Dona Eli Alves, de 80, é vizinha de um supermercado e se mostra uma consumidora ponderada. Ela diz que vai sempre ao local em busca das ofertas e que se sente tentada a comprar mais que o programado quando chega na sessão de peixes e carnes. “De modo geral, fico dentro do orçamento. Não compro além do que preciso, mesmo a variedade de produtos sendo boa”, ensina.
Crianças por perto,carrinhos cheios
Alguns hábitos podem levar o consumidor a gastar mais no supermercado. Ir às compras com as crianças pode ser um fator de risco no orçamento das famílias, mas também uma oportunidade de ensinar a resistir a tentações. Na pesquisa sobre o uso do crédito pelo consumidor brasileiro, realizada pelo Sistema de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), 26% dos entrevistados afirmam que não resistem às pressões dos filhos e acabam enchendo o carrinho com mais produtos do que deviam. Entre os pais que têm crianças de até 6 anos, o percentual aumenta para 37% e para os que têm filhos entre 7 e 15 anos, o índice é de 35%.
Especialistas apontam que ir ao supermercado deve ser uma experiência educativa para as crianças. Maria Inês Dolci, coordenadora institucional da Proteste Associação de Consumidores, aponta que esse é um bom momento para explicar aos pequenos não apenas que o dinheiro é um recurso limitado, mas também para incentivar os bons hábitos de consumo. “Nesse momento, os pais podem, por exemplo, explicar que um determinado produto contém muito açúcar e trocá-lo por outro mais saudável”, lembra.
Flávio Borges, gerente financeiro do SPC Brasil, acredita que em tempos de crescimento da oferta de produtos à mão do consumidor, que facilmente podem ser adicionados ao carrinho, o comportamento da clientela vem sendo desvendado. Segundo o especialista, o neuromarketing, que estuda as reações dos consumidores diante do produto e os estímulos cerebrais que o fazem comprar, está cada vez mais evoluído, ampliando os estímulos às aquisições. “Prestar atenção nas compras que vão além da lista e o valor que elas representam no orçamento é importante para evitar o descontrole financeiro. Em pesquisa feita pelo SPC no início desse ano, 85% dos consumidores assumiram já ter comprado por impulso”, alerta Borges. (MC)
Para evitar as tentações
Cuidado com a fila para o caixa dos supermercados. Esse é um local estratégico, onde supermercados investem nas compras de última hora. Geralmente, as gôndolas são recheadas de guloseimas e artigos como pilhas, lâminas para barbear e pequenos brinquedos.
Promotores de vendas ajudam a divulgar o produto, mas o consumidor, depois de provar, não deve se sentir obrigado a comprá-lo.
Os produtos de primeira necessidade costumam não estar nas primeiras gôndolas. Para chegar até eles é preciso andar pela loja, passando por corredores lotados de itens variados. É bom evitar parar em outros setores para não fugir do foco da compra.
Espaço para café, ambiente climatizado, ausência de relógios e música ambiente fazem o consumidor ficar mais tempo na loja.
Mudar um produto de lugar é uma estratégia do varejo para fazer o consumidor circular pela loja, aumentando suas chances de comprar.
Fonte: Proteste
Quem cede mais? 34% compram por impulso nos supermercados 25% são impulsivos nos shoppings 37% das famílias com crianças de até 6 anos cedem a pressões para comprar além do planejado
Ponte: Pesquisa SPC Brasil e CNDL
O que diz o Código
Art. 31 — A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas características, qualidades, quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores.
Art. 39 — É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, entre outras práticas abusivas:
IV – prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus produtos ou serviços.
Fonte: Código de Defesa do Consumidor Marinella Castro – Encontro